O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres pediu hoje a cooperação global para aquela que poderá ser a “pior crise desde que a organização foi fundada”, com especial atenção ao hemisfério sul e continente africano.
Guterres lançou hoje um relatório da ONU intitulado com a mensagem principal: "Responsabilidade compartilhada, solidariedade global: responder aos impactos socioeconómicos da covid-19" e exigiu a cooperação de todos os países numa ação global para testes, despiste e tratamento da doença, sob orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Numa declaração virtual, António Guterres voltou a exigir que os países mais desenvolvidos ajudem os menos desenvolvidos, nomeadamente em África, a enfrentar a crise provocada pela pandemia do coronavírus, a pior crise desde a II Guerra Mundial.
O chefe da ONU disse hoje que os cinco biliões de dólares já alocados em todo o mundo para a resposta à crise da covid-19 não são suficientes, já que “a maior parte do dinheiro foi mobilizado por países desenvolvidos para apoiar as suas próprias economias”.
Guterres diz que é necessária uma resposta global, abrangente e multilateral a que seja dedicada 10% da riqueza global produzida no mundo, pediu “mecanismos inovadores” para soluções da crise e declarou que a recuperação depois da covid-19 tem de constituir uma “nova economia, com sociedades mais fortes e resilientes”.
O continente africano é a principal preocupação para o secretário-geral da ONU, que encorajou o grupo G20 a colocar em prática a Iniciativa para África e incentivou o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou outras instituições financeiras a proceder à “injeção de recursos” nas economias mais vulneráveis.
António Guterres acrescentou que a “prioridade” nesta ação mundial é o alívio da dívida e pediu que se renuncie a taxas de juro para os créditos relativos a todo o ano de 2020.
O secretário-geral também sugeriu que a liquidez financeira seja conseguida com a cooperação entre bancos centrais e com as linhas “swap” de troca de moeda.
Sem uma resposta global, com “responsabilidades partilhadas”, Guterres alertou que o mundo terá de “enfrentar o pesadelo de a doença se espalhar como um incêndio de grandes proporções, com milhões de mortes e a possibilidade de a doença poder reemergir nos locais onde foi suprimida”.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O chefe da ONU explicou que a covid-19 é a pior crise desde que a organização foi fundada, em 1945, por representar uma “combinação de uma doença que ameaça todos no mundo com o impacto económico e que traz uma recessão sem paralelo no passado recente”.
A organização internacional pede uma ação forte e em grande escala, “à medida da crise mundial”, coordenada e compreensiva.
A ONU escreve que o relatório lançado hoje é “um apelo à ação, para a resposta imediata à saúde necessária para suprimir a transmissão do vírus, para concluir a pandemia, e enfrentar as muitas dimensões sociais e económicas desta crise. É, acima de tudo, um apelo para focar nas pessoas - mulheres, jovens, trabalhadores com baixos salários, pequenas e médias empresas, no setor informal e em grupos vulneráveis que já estão em risco”.
Guterres sublinhou que se trata “não só de uma questão de aumentar liquidez no sistema financeiro, mas apoiar diretamente os que perderam empregos e salários, pequenas empresas que não podem operar e todos aqueles que são as fábricas das nossas sociedades”.
“Somos tão fortes como o sistema de saúde mais fraco do nosso mundo interligado”, declarou Guterres.