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Médio Oriente: Médicos Sem Fronteiras suspendem atividades na cidade de Gaza

Lusa
26-09-2025 19:03h

A organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou hoje que foi "obrigada a suspender" as suas atividades na cidade de Gaza devido à intensificação da ofensiva israelita no território palestiniano.

"Não tivemos outra alternativa senão suspender as nossas atividades, uma vez que as nossas clínicas foram cercadas pelas forças israelitas. Era a última coisa que queríamos, uma vez que as necessidades em Gaza são enormes", explicou Jacob Granger, coordenador de emergência dos MSF em Gaza, num comunicado de imprensa.

Israel ordenou a evacuação do norte da Faixa de Gaza em direção ao sul do território, tendo disponibilizado para o efeito a estrada Rashid, junto à costa, o que tem causado grandes constrangimentos às pessoas em fuga, numa altura em que as forças israelitas preparam uma ofensiva terrestre na principal cidade do enclave.

"Embora um grande número de pessoas tenha fugido para sul devido às ordens de evacuação, existem ainda centenas de milhares na cidade de Gaza, que não podem sair e não têm outra opção senão ficar", adianta o comunicado da ONG, que apoia palestinianos afetados pela guerra.

A MSF alertou que aqueles que não conseguem sair "enfrentam uma escolha impossível: ou permanecem na cidade de Gaza sob intensas operações militares e a deterioração da lei e da ordem, ou abandonam o que resta das suas casas, dos seus pertences e das suas memórias, para se deslocarem para zonas onde as condições humanitárias estão a ruir rapidamente".

"As pessoas mais vulneráveis - os bebés em cuidados neonatais, os feridos graves e os que sofrem de doenças potencialmente fatais - não podem deslocar-se e correm grande perigo", acrescentou Granger.

As forças armadas israelitas afirmaram na quinta-feira que 700.000 palestinianos fugiram de Gaza em direção ao sul do enclave desde o final de agosto, embora a Agência da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) afirme que apenas 388.400 pessoas abandonaram a cidade de Gaza desde meados de agosto.

No sábado, as autoridades de Gaza, controladas pelo movimento islamita palestiniano Hamas, avançaram que cerca de um milhão de pessoas estão concentradas em Al-Mawasi e Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, para onde o exército israelita dirigiu estas deslocações forçadas da população.

Só na semana passada, as clínicas dos MSF na cidade de Gaza efetuaram mais de 3.640 consultas e trataram 1.655 pacientes que sofriam de desnutrição, segundo a ONG, que apela ao "fim imediato da violência" e ao "acesso sem entraves" dos trabalhadores humanitários.

Embora tenha suspendido as suas actividades na cidade de Gaza, a MSF afirma que pretende continuar a apoiar "serviços essenciais" nas instalações do Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, incluindo os hospitais Al-Helou e Al-Shifa, "enquanto continuarem a funcionar".

A guerra em curso na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e 251 reféns.

A retaliação de Israel já provocou mais de 65.200 mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.

Israel também impôs um bloqueio à entrega de ajuda humanitária no enclave, onde mais de 400 pessoas já morreram de desnutrição e fome, a maioria crianças.

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