SAÚDE QUE SE VÊ

Movimento +Fertilidade quer ação em várias frentes para inverter declínio demográfico

LUSA
04-06-2025 06:00h

O Movimento +Fertilidade, que será apresentado na quinta-feira em Lisboa, pretende tornar a saúde reprodutiva uma prioridade nacional, envolvendo empresas e especialistas, numa ação em várias frentes para tentar inverter o declínio demográfico.

Lembrando que a fertilidade deixou há muito de ser apenas uma questão estatística, o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução, Luís Vicente, lembrou que, mesmo com a imigração, Portugal não está a conseguir resolver o problema.

“Estamos a assistir a formas de infertilidade cada vez mais frequentes”, o que exige uma aposta em literacia da população, mais políticas de promoção de saúde e o envolvimento das empresas para que promovam medidas mais amigas das famílias e não levem as mulheres a adiarem cada vez mais a maternidade.

O dirigente lembrou que a Organização Mundial de Saúde em 2022 demonstrou que a prevalência de infertilidade deixou de ser de um em cada 10 casais e passou a ser de um em cada seis e sublinhou a necessidade de uma ação conjunta e a várias frentes para enfrentar o problema.

A ideia do Movimento + Fertilidade, que será apresentado no Centro Cultural de Belém, é envolver, não apenas os profissionais de saúde que trabalham nesta área - médicos, enfermeiros, embriologistas -, mas também empresas e representantes institucionais.

Os promotores lembram as preocupações económicas, a escassez de apoios para o planeamento familiar e as condições laborais desfavoráveis que "continuam a levar muitas pessoas a adiar o projeto da parentalidade", uma situação que "tem um impacto significativo na saúde emocional dos jovens", diminuindo a vontade de ter filhos.

“Nós tratamos a infertilidade, mas a ideia é promover outros pilares para a combater e, no fundo, tentar ir a montante e prevenir”, explicou o presidente da SPMR, recordando que, hoje em dia, há tratamentos que permitem uma gravidez em idades mais tardias, mas são gravidezes com "maior risco obstétrico”.

Lembrou que as mulheres têm filhos cada vez mais tarde - a idade média em Portugal está nos 30 anos – acrescentando: “Não podemos dizer apenas para terem os filhos mais cedo, porque nos respondem: até queríamos, mas não temos condições”.

Neste sentido, o encontro de quinta-feira vai contar com a participação de empresas que já aderiram ao movimento e vão dar exemplos de medidas de apoio à família que praticam, como a maior flexibilidade de horários ou a possibilidade de trabalho híbrido.

A ideia é “evitar prejudicar as mulheres quando engravidam ou quando têm filhos, que é o que muitas vezes acontece”, sublinhou.

O responsável destacou a importância de melhorar o acesso aos tratamentos de infertilidade – “no sul do país não há nenhum centro público” -, assim como de políticas que promovam hábitos de saudáveis.

Exemplificou que é preciso combater substâncias que são tóxicas para o sistema reprodutor e que têm impacto na fertilidade, nomeadamente a canábis, “que tem um impacto muito grande sobre a fertilidade masculina”.

Outro dos pilares é a literacia em saúde.

“É importante, na educação, promovermos a consciencialização da fertilidade e ensinar, por exemplo, que as mulheres têm uma reserva ovárica”, disse.

“Há pouco tempo um estudo a nível europeu que envolvia os ‘millennials’ [dos 30 aos 45 anos] e a geração Z [‘dos 15 aos 29 anos’], que são pessoas que navegam na ‘net’ e que têm muito acesso a muita informação, mostrou que 78% das mulheres não sabiam o que era a reserva ovárica, 70% destas mulheres jovens não sabiam que era possível fazer a criopreservação de ovócitos”, exemplificou.

O movimento recorda que a baixa taxa de fertilidade nacional e europeia pode inclusive agravar a escassez de mão de obra no futuro, levar a “sistemas de proteção social insustentáveis”, a um declínio do nível de vida e à perda de competitividade global e, por isso, defende uma atuação a várias frentes para conseguir resultados.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística indicam que, em 2024, nasceram cerca de 84.650 bebés, menos 1,2% do que no ano anterior, e um terço são filhos de mães de naturalidade estrangeira.

MAIS NOTÍCIAS